Impertinência

Posted: 19 de Março de 2012 by Filipa Coelho in Uncategorized

Alzinda Reis encontrava-se na sala de espera do hospital. Apesar dos seus 50 anos, exibia uma frescura característica de 30. O cabeleireiro era a sua segunda casa e não havia um único dia em que ela ousasse ter um cabelo fora de sítio. À sua frente passou uma jovem que não devia ter mais de 20 anos.

Era esguia como uma enguia e apresentava um ar despreocupado que assumia um significado maior ao repararmos nos 7 piercings espalhados pela cara e nas 3 tatuagens que pareciam teimar em saltar-lhe do braço. Parecia atrasada para algo e, sem parar a correria, entrou pelo interior do hospital como se este lhe pertencesse. Que impertinência! – pensou Alzinda.

Durante as restantes horas não conseguiu parar de tecer criticas à jovem que vira passar e de, inclusive, pensar num saco de roupa usada que tinha lá por casa e que havia amontoado para dar aos pobres. Imaginou como uma ou outra peça poderia milagrosamente tapar as tatuagens horríveis da jovem e claro, dar-lhe um ar mais limpo.

Enquanto isto, o megafone da sala de espera assumia uma voz rouca que, vagarosamente, ia chamando os pacientes para o interior do consultório. Alzinda, que já ali padecia há cerca de 3 horas e já mal se lembrava do que ali fora fazer, ouviu soar (finalmente ) o seu nome.

Já no corredor, uma das enfermeiras indicou-lhe o caminho até ao consultório e qual o seu espanto quando, ao entrar, se depara com a jovem que outrora passou por si numa correria desmedida. O seu ar de confusão foi tal que, se não fosse o pormenor de ter o cabelo impecavelmente no sitio, com certeza lhe teriam saltado um ou outro do travessão e ficado tão hirtos quanto ela.

Não se sabe ao certo o que se passou no interior do consultório mas consta-se que assim que Alzinda percebeu que a jovem a quem outrora teceu críticas seria a sua médica, saiu tão corada como uma maçã da toscana e, sem emitir uma única palavra, desapareceu do mesmo sem deixar rasto. Terá ficado a jovem médica a pensar: “Que impertinência?”.

O Michel português

Posted: 22 de Agosto de 2011 by Filipa Coelho in Uncategorized

Michel que é michel gosta de vir de férias para Portugal e fingir que domina bem a língua Francesa. Michel que é michel fala em francês excepto naquelas alturas em que lhe chega a mostarda ao nariz e aí sim, é vê-lo a recitar palavrões em português sem qualquer controlo.

Mas afinal, o que é um michel? Um michel é um português que decidiu tentar a sua vida em França e, sempre que vem de férias para Portugal, faz questão de mostrar o seu novo vocabulário a toda a aldeia.

Todos nós temos um michel na nossa vida e, embora não esteja a generalizá-los, o facto é que a maioria gosta de se fazer passar por franciú e nem sempre a coisa corre bem. Peço desculpa a todos os michéis mais sensíveis mas o facto é que muitas vezes faziam melhor figura se falassem a vossa língua materna ( neste caso o português).

O vocabulário de que vos falo, nunca é muito grande mas, acreditem que os próprios michéis se espantam com o que conseguem construir com expressões básicas como: merci, s’arrête, oui, je suis portugaise, etc.

No entanto, apesar de os michéis tentarem transmitir alguma credibilidade com o francês (mal falado) o facto é que há coisas que não nos são inatas e, como tal., a veia portuguesa salta à vista.

É por isso que muitas vezes damos connosco num café ao lado de um michel e ouvimos um: “ S’arrête Amélie! Vous allez tomber… Ah porra! Já caíste filha da mãe!”.

 

 

Das duas, uma

Posted: 4 de Julho de 2011 by Filipa Coelho in Uncategorized

Na passada semana fomos surpreendidos pela excêntrica notícia (e digo isto porque não é de todo normal) de que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho viajou até Bruxelas num voo de classe económica.

Apesar de alguma contestação por parte de certos indivíduos (que afirmavam que tal atitude não passava de um golpe de publicidade), o facto é que há quem diga que é a intenção que conta e, caso assim seja, não há dúvidas de que Passos Coelho deu o exemplo.

No entanto, dias depois, assistimos a uma certa contradição que dizia que afinal, a viagem de Pedro Passos Coelho a Bruxelas em classe económica, pode não ter representado qualquer poupança para os cofres do Estado, uma vez que é prática corrente os ministros e secretários de estados não pagarem à TAP o bilhete nas deslocações oficiais.O que nos leva a ponderar se afinal a Tap estará assim tão mal como consta mas, adiante.

O facto é que depois de vermos o exemplo de Passos, muitos dos que disseram outrora que a medida eficaz seria precisamente a poupança, depressa sentiram uma necessidade inexplicável de se revoltarem com tal acto do senhor Passos (tendência humana tão comum) e decidiram que “ ah e tal, afinal a viagem era de borla de qualquer das formas e, como tal, esqueçam o exemplo dado pelo senhor primeiro-ministro!”

Há quem diga que Portugal não anda para a frente pois nunca estamos satisfeitos com nada. Simplesmente perdemos a fé na política e a ideia do que esta representa, está cada vez mais além do que desejamos. Mas, saberemos nós o que desejamos?

Afinal de contas, nunca estamos satisfeitos com que medidas forem! Já me questiono se o mal será do governo ou dos próprios portugueses. Das duas, uma.

 

O que comer?

Posted: 18 de Junho de 2011 by Filipa Coelho in Uncategorized

Não como aves, porque fiquei com medo da gripe das aves, não como vaca porque ouvi dizer que a doença das vacas loucas ainda poderia estar alerta, não como peixe porque este pode estar contaminado e agora também não como saladas devido à E. Coli. Então, o que como?

 Todos os anos (ou quase todos) surge um vírus ou uma doença nova que nos faz sair da monotonia em que estamos e nos deixa a pensar que se isto continua assim, um dia nem saberemos o que comer.

Ora aparece a gripe das aves, ora surgem as vacas loucas, ora o peixe fica contaminado com os despejos poluentes nas águas e, como se não fosse suficiente, eis que agora surge a E. Coli – um dos microrganismos que habita de forma natural a flora microbiana do trato intestinal de humanos e da maioria dos animais.

A verdade é que, passado um mês, ainda não se sabem causas mas sabe-se que já morreram mais de 30 pessoas, sendo que os prejuízos são na ordem das centenas de milhões de euros – a Comissão Europeia acha que 150, os espanhóis crêem que o número é demasiado baixo porque só cobre 30% dos prejuízos dos agricultores.

Se já estávamos desconfiados do frango, da vaca e do peixe, agora junta-se a salada (especialmente se tiver rebentos de soja e pepino). De resto, ninguém sabe sequer se são os vegetais que são os culpados – há quem defenda também que é preciso procurar nos animais, uma vez que é neles que vive a bactéria.

No entanto, isto leva-nos a reflectir que se tal se mantiver, qualquer dia toda a comida é feita em fábricas devidamente desinfectadas, teremos uma sociedade de comida enlatada e plastificada contudo, nunca livre de bactérias. Se não aparecerem na comida, hão-de vir de outro lado (ou não fossem elas uma boa fonte de rendimento para a indústria farmacêutica).

 

Idade Média? Sim, por favor!

Posted: 3 de Junho de 2011 by Filipa Coelho in Uncategorized

Nos últimos dias foram várias as noticias que nos chamaram a atenção no que diz respeito à violência entre adolescentes. Primeiro, foram as imagens de uma menina de 13 anos a ser agredida selvaticamente por outras duas jovens de 15 e 16 anos. Dias depois desta triste notícia surge outra: o caso de uma jovem de 17 anos que esfaqueou a amiga com um x-acto, alegadamente por causa de uma discussão em torno de um telemóvel.

O que me leva a pensar: “Mas o que se passa com estes miúdos de agora?” Palpita-me que afinal, a geração rasca não é a minha mas sim esta que se aproxima. Continuando no caso da agressão à menina de 13 anos, é de referir que, como se não bastasse tal acto de desumanidade a que esta foi sujeita, ainda passou pela humilhação de ver o vídeo exposto numa rede social – facebook.

Ao que parece, existia um outro jovem, de 18 anos, que decidiu filmar a cena e divulgar via internet (como se tal acontecimento fosse algo relativamente lúdico de se ver). Contudo, se até aqui dizíamos mal dos nossos juízes e nos perguntávamos qual a função dos mesmos, uma vez que todos os criminosos presentes a tribunal, são libertados, eis que aparece o juiz Carlos Alexandre que, protagonizou a decisão inédita de aplicar a prisão preventiva à jovem de 16 anos, e ao alegado autor das filmagens.

 E aqui penso que todos concordamos que tais medidas foram muito bem aplicadas pois, tento acreditar que nenhum de nós gostasse de ver aquelas imagens chocantes tendo como vítima um filho nosso, um neto ou até mesmo um amigo.

Porém, neste caso, alem da violência a que fomos expostos através das imagens divulgadas pelos meios de comunicação social, o que mais me tirou o sono foi o comunicado que o Bastonário da Ordem dos Advogados deu recentemente, onde (imagine-se só) criticou a aplicação de prisão preventiva aos dois jovens envolvidos no caso, considerando tratar-se de uma medida de um sistema judicial “da Idade Média”.

Idade Média Senhor Bastonário? Quem nos dera! Pelo menos na Idade Média, os crimes praticados eram punidos. Ai como eu gostava que a Idade Média voltasse nalguns casos.